segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

If you could, save me from the ranks of the freaks who suspect they could never love anyone...



É uma das minhas manias constantes, o inevitável regresso ao passado, cada vez que surge um novo trabalho de um dos meus artistas de eleição. Desta vez, depois de espreitar o magnífico “The Master” tornou-se obrigatório revisitar um dos filmes que mais acarinho do grande Paul Thomas Anderson, “Magnolia”, que segundo as palavras do próprio é "unquestionably the best film I will ever make."

 Já perdi a conta ao número de elogios que foram feitos a este trabalho, todos eles bem merecidos, que sobretudo realçam a direcção e o argumento magistral do realizador, a banda sonora enquanto uma das personagens mais importantes do filme, a fotografia hipnotizante e claro o magnífico conjunto de interpretações, todas elas, sem qualquer excepção ao mais alto nível. Contudo, o que muitos se esquecem de referir é que “Magnolia” é também uma das mais fortes e bonitas declarações de amor que já vimos no grande ecrã.

 Anderson declarou aos quatro ventos que Fiona Apple, namorada do realizador nessa fase, foi a sua grande inspiração para este trabalho. Essa situação é notória em personagens como Stanley, a criança prodígio que tal como Apple vive negligenciada e explorada pelo próprio pai. Anderson chegou mesmo ao pormenor de replicar alguns momentos reais de Fiona como a cena em que Stanley implora para que o deixem ir à casa de banho durante um programa televisivo:

 “Fiona told me a story, and it's funny, because I don't remember it in detail now, because I've twisted it around and made it my own, but she had to go to the bathroom in some kind of taping situation, and they just said, 'Well, can you just hold it and do this thing for us first?' And she did. And when she told me this story, I wanted to strangle every person involved. We had just fallen in love, and I was just becoming protective of her, you know, as protective of her as I am now, as my girlfriend and, you know, as my love. And to hear this story made me want to crack someone's head open and say, "Let her go to the fucking bathroom." – Paul Thomas Anderson para a Rolling Stone 

Outro exemplo claro é o célebre discurso de Fiona Apple nos VMA, ( “This World is Bullshitt”) no momento em que Stanley também decide desafiar aquele mundo de ilusões.

 Contudo, se Stanley reflecte apenas a infância dolorosa de Apple enquanto criança prodígio, Claudia (interpretação magistral de Melora Walters) vai mais longe, representando não só a repercussão dos abusos sexuais na infância, o uso de drogas como escape à realidade dolorosa em que se encontra e principalmente a crença inabalável de que não merece ser amada.

 É curioso que Anderson opte por escolher os versos de Aimee Mann (“Now that I've met you, would you object to never seeing me again?”) para ilustrar esse estado de espírito da personagem quando podia ter usado as palavras que Fiona tão bem utiliza nas canções do grandioso “When The Pawn…” (uma obra-prima musical também ele totalmente influenciado pelo relacionamento com Anderson).

O darling, it's so sweet, you think you know how crazy, how crazy I am/You say you don't spook easy, you won't go, but I know and I pray that you will /Fast as you can, baby run-free yourself of me”. 

Mas as palavras de Apple apenas servem para reforçar a obsessão e o proteccionismo de Anderson para com Fiona inspirando-o a escrever aquele discurso final que como o próprio referiu na altura em entrevista à new york magazine representa “the epitome of every embarrassing thing I wanted to say to her…": 


“I can't let this go. I can't let you go. Now, you... you listen to me now. You're a good person. You're a good and beautiful person and I won't let you walk out on me. And I won't let you say those things - those things about how stupid you are and this and that. I won't stand for that. You want to be with me... then you be with me... You see? “ 




 É assim que chegamos àquele último momento, uma cena magistralmente construída e pensada ao pormenor. “Save Me” assume o protagonismo enquanto no fundo se ouvem as palavras pouco perceptíveis de John C. Reilly,  porque aquele é um momento íntimo direcionado apenas para a sua Claudia/Fiona.

No final, não são precisas mais palavras, basta apenas um sorriso a representar que apesar de todos os traumas e dos demónios internos ainda há esperança para Claudia/Fiona.

Simples, tocante e absolutamente perfeito...


Paul e Fiona podem não ter tido direito ao seu final feliz, mas não restam dúvidas que este relacionamento foi uma bonita (e dolorosa) história de amor que despoletou um dos filmes e um dos álbuns mais marcantes dos anos 90.


6 comentários:

Loot disse...

Caramba que post, quanta paixão :)

Por acaso não gosto mais deste que do boogie Nights - não há amor como o primeiro.

Mas, o magnolia é dos filmes mais belos dos últimos anos. Como já tinha dito aqui, desconhecia a relação com a Apple então descobrir estas coisas foi muito bom :)

obrigado

Mr. Blue disse...

Muito bem "falado" :)

Magnolia é tremendo. Foi paixão imediata. Para sempre.

O PTA é o maior!

Parabéns pelo post.

Bjs.

sem-se-ver disse...

sim a tudo, c mts aplausos e vénias

:)

Diogo Semedo disse...

Amén...durante algum tempo recusei-me a ver este filme pelo simples facto que o mr.Cruise andava por lá; mas quando finalmente dei o braço a torcer devo dizer que me obriguei a vê-lo vezes e vezes sem conta para obrigar o meu cérebro a perceber o que era uma obra de arte. COncordo absolutamente com a opinião de que a banda sonora é uma personagem. Aimee Mann changed my life :-)

tadeu disse...

quando te apetecer outra "mania constante", bloga. por favor!
:)

ana disse...

Vi este filme há tantos anos e hoje ao ler o teu post deu-me assim uma nostalgia tão grande...
É um dos meus filmes favoritos. E com uma banda sonora igualmente fantástica. :)